Nova forma de classificar os seres vivos privilegia a história evolutiva e abandona as divisões da classificação de Lineu
Dois livros lançados em junho sistematizam uma proposta alternativa de classificar os seres vivos a partir de sua história evolutiva, de suas relações de ascendência e descendência, independentemente de suas características anatômicas e sem o emprego das tradicionais categorias taxonômicas hierárquicas, como domínios, reinos, filos, classes, ordens, famílias e gêneros. Essas divisões derivam das ideias apresentadas em meados do século XVIII em sucessivas edições da célebre obra Systema Naturae, do naturalista sueco Carl von Linné, mais conhecido como Lineu. Os defensores do PhyloCode, nome formal da iniciativa recém-proposta, consideram as categorias de matriz lineana, ainda hoje um dos pilares da taxonomia, como abstrações descoladas da realidade biológica que não fazem mais sentido diante do avanço da filogenia. Também criticam as dificuldades de incorporar a descoberta de novas espécies e revisões de suas relações de parentesco em um sistema baseado em divisões taxonômicas estanques.
“A contribuição de Lineu para a biologia foi revolucionária e notavelmente duradoura, mas ela era pré-evolucionista e antecede em um século a publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin”, diz, em entrevista por e-mail, a Pesquisa FAPESP o biólogo norte-americano Philip Cantino, da Universidade de Ohio, um dos idealizadores do PhyloCode, ao lado do colega Kevin de Queiroz, do Museu Nacional de História Natural, de Washington, Estados Unidos. A dupla assina o livro International Code of Phylogenetic Nomenclature (PhyloCode), que contém as normas e diretrizes fundamentais da proposta. “Apesar de a aceitação quase universal da premissa de que a classificação deveria se basear em relações filogenéticas, os biólogos continuam a nomear clados [grupos de organismos que descendem de um ancestral comum] usando um sistema pré-evolutivo.”