O engenheiro-agrônomo Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, explica como a composição química das unhas pode ser usada para analisar a dieta da população.
A proporção de diferentes isótopos de carbono presente nas unhas
pode indicar o tipo de dieta preferencial consumida nos últimos seis meses
pelos brasileiros e servir de parâmetro para inferir o grau de desenvolvimento
humano da cidade em que eles vivem. Isótopos são variantes de um elemento
químico que têm o mesmo número de prótons, mas diferem na quantidade de
nêutrons. Essa é a conclusão de um artigo publicado em julho na revista Science
of Food. Os autores do trabalho analisaram a composição isotópica
de amostras das unhas de 4,5 mil indivíduos de 37 cidades do país, onde vive
10% da população, e calcularam a média de um parâmetro denominado delta carbono
13 (δ13C) para cada município. Valores elevados desse índice sinalizam
alto consumo de alimentos ultraprocessados, como carnes industrializadas,
refrigerantes e sobremesas prontas, e baixos sugerem ingestão majoritária de
alimentos in
natura, sobretudo arroz, feijão e mandioca.
Em seguida, os pesquisadores compararam o δ13C de cada cidade com seu respectivo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), indicador criado em 1990 pela Organização das Nações Unidas (ONU)
que leva em conta a expectativa de vida ao nascer, o nível de educação e a
renda per
capita de uma população. Essa análise evidenciou uma
correlação significativa: quanto maior o δ13C do município, maior seu IDH. Por
meio de técnicas estatísticas, o grupo de cientistas extrapolou a correlação
para quase 99% dos 5.570 municípios do país e gerou um mapa com a distribuição
geográfica das dietas (ver na página ao lado). Quase 70%
das amostras de unhas foram coletadas entre 2008 e 2015. Outros 23% foram
obtidos entre 2002 e 2006 e o restante depois de 2015. Veja mais. Ouça o Podcast e assista ao vídeo.
Fonte: Pesquisa FAPESP - edição 296