06 janeiro 2021

Inteligência artificial na revisão por pares

Software aponta possíveis conflitos de interesse envolvendo autores de artigos e pesquisadores que avaliam sua qualidade


A editora suíça Frontiers, que publica mais de 90 periódicos científicos em acesso aberto, desenvolveu um software que utiliza inteligência artificial para examinar artigos e identificar até 20 diferentes problemas relacionados à sua integridade, como plágio ou imagens com sinais de manipulação. O programa chamou a atenção, no entanto, por oferecer um serviço inovador: ele avisa quando os autores de um manuscrito e os editores e revisores que estão apreciando o seu conteúdo já assinaram juntos outros artigos, em uma proximidade que pode tornar a avaliação subjetiva e configurar um conflito de interesses. Denominado Artificial Intelligence Review Assistant (Aira), a ferramenta está sendo utilizada no processo de revisão por pares de revistas da Frontiers com o propósito de fornecer um alerta objetivo sobre interações prévias entre quem produz e quem avalia o conhecimento. Cabe a um juiz de carne e osso – o editor-chefe do periódico, em última instância – arbitrar se esses contatos anteriores afetam ou não a isenção da análise. “É necessário ter apoio tecnológico para verificar em larga escala conflitos de interesse entre autores e revisores”, disse o cientista da computação Daniel Petrariu, diretor de Desenvolvimento de Produtos da Frontiers, no lançamento do programa, em julho.
O Committee on Publication Ethics (Cope), fórum que discute temas relacionados à integridade na ciência, define conflito de interesses como uma situação em que pesquisadores ou instituições científicas têm interesses que concorrem entre si, de caráter profissional ou econômico, de modo que tomar partido de um deles pode comprometer a imparcialidade de suas decisões. A existência de um conflito de interesses, observa o Cope, não é determinante para a ocorrência de má conduta: a despeito de tais circunstâncias, um estudo pode perfeitamente ter resultados válidos e fidedignos. Mas, quando isso acontece, é obrigatório lidar com o problema de forma transparente. Por isso, exige-se que pesquisadores assinem declarações de conflitos de interesse sempre que apresentar um projeto ou publicar um artigo. Fica a cargo do avaliador do projeto ou do leitor do paper ponderar os resultados tendo em mente os interesses envolvidos.   Veja mais.    Fonte: Pesquisa FAPESP - jan. 2021