O jornalismo científico pode ajudar a população a compreender melhor
aspectos e funcionamento da ciência, o que já cria um ânimo favorável ao
investimento nela – ninguém defende aquilo que não conhece ou não entende.
Governos, especialmente os mais populistas que têm tido êxito em se eleger ao
redor do mundo, definem suas prioridades pensando menos em longo prazo e mais
em demandas imediatas do eleitorado. Mais do que nunca é preciso criar numa
parte maior da população cultura de que ciência e tecnologia importam para
avançar em metas econômicas e de desenvolvimento humano.
Mostrar o que a ciência nacional faz e pode
fazer em reportagens não esgota, e nem é o único fim do jornalismo científico,
mas entra na soma desta cultura favorável à ciência. Especialmente quando
mostra a ciência aplicada e em conexão direta com a melhoria da vida das
pessoas.
Estamos extremamente defasados. A maior
parte da cobertura dos temas de ciência é feita por repórteres generalistas,
sem intimidade com os meandros da ciência, e sem espaço, tempo, e orientação
para explorar melhor as pautas. Feita a ressalva a este quadro mais amplo, que
é um pouco desanimador, ainda há iniciativas interessantes, assim como
profissionais fazendo um ótimo trabalho. Saiba mais. Fonte: Jornal da USP - 20/06/22
Jornalismo científico: o espaço nas mídias digitais
As mídias digitais têm ocupado, cada vez mais, espaço na divulgação de
informações de CT&I, especialmente se atentarmos para a circulação de
informações nessas áreas pelas mídias sociais. Elas certamente também têm
contribuído para o incremento do negacionismo, das fake news protagonizadas por
aqueles que as produzem voluntariamente ou as compartilham sem qualquer
espírito crítico ou compromisso com a apuração das informações. É preciso
chamar a atenção também para a ação de lobbies, de interesses escusos, que
constrangem a produção e a divulgação científicas em favor de interesses
políticos, ideológicos e empresariais. Este fato tem propiciado a emergência de
versões que não se apoiam nas evidências, como as que deram espaço à “eficácia
da cloroquina e da ivermectina para o tratamento da covid-19”, à visão
criacionista em oposição à teoria da evolução e mesmo ao terraplanismo, dentre
outras perspectivas sem qualquer fundamento. Agrega-se a este movimento a
interferência de fontes e perspectivas religiosas que optam por fazer leituras
equivocadas do processo científico e das suas descobertas. Saiba mais. Fonte: Jornal da USP - 21/06/22
O que é preciso para ser um bom jornalista científico
A cobertura de todos os assuntos na imprensa exige preparo dos
profissionais. No caso do jornalismo científico, é preciso estar atento às suas
especificidades e complexidades, dizem os jornalistas que trabalham na área.
Citam alto grau de especialização e qualificação, curiosidade científica,
conhecimento de política científica, do processo de produção da CT&I e o
entendimento de que a ciência também é falível e tem limites, além de algum
tipo de treinamento profissional. Vejo três condições absolutamente
indispensáveis para isso: jornalistas bastante preparados; uma comunidade
científica aberta, capaz de entender a importância e o papel próprio do
jornalismo na difusão social da ciência; e recursos − financeiros e de
infraestrutura, o que inclui meios e veículos de comunicação potentes. Saiba mais. Fonte: Jornal da USP - 22/06/22
A tendência e uma crítica
à cobertura de ciência na grande imprensa
Na pandemia, foi
possível perceber que a cobertura de ciência atingiu um nível maior de
maturidade por parte de quem produz o conteúdo e das fontes. Também avançou o
nível de entendimento sobre a discussão, por parte do público, das fontes
acadêmicas e até dos colegas jornalistas. Isso fez com que essa pauta ganhasse
espaço no noticiário, justamente pela sua conexão com a realidade e sua
capacidade de mudar nossas vidas. O desafio
durante a crise da covid-19 foi mostrar aos leitores a relevância e a
complexidade dos processos científicos. Traduzir avanços, insucessos e
limitações das pesquisas sobre protocolos de prevenção, remédios e vacinas
revelou-se uma missão que exigiu rigor de apuração, escolha correta da
linguagem, compreensão sobre as demandas do público e interlocução qualificada
com as fontes.
O
sombreamento entre jornalismo e divulgação científicos
Divulgação e jornalismo
científico são muitas vezes citados como atividades sinônimas; e de fato há um
sombreamento grande entre elas, mas é importante destacar que são atividades
distintas, com funções distintas. Uma diferença essencial é que o
jornalismo trabalha apenas com informações inéditas. Ele tem a função de
noticiar algo que acabou de acontecer, mesclando fatos, análises e opiniões de
especialistas sobre aquele determinado acontecimento − por exemplo, o anúncio
de uma descoberta, o lançamento de algum projeto ou a publicação de uma nova
lei de política científica. Uma vez publicada a notícia, ela deixa de ser
notícia. O jornalismo tem a função de informar a sociedade, não de educá-la,
nem mesmo de fomentar o fascínio pela ciência − além da educação que é
necessária para o próprio entendimento da notícia e do fascínio intrínseco
gerado pela própria ciência que está sendo noticiada.
A
importância de José Reis na cobertura de Ciência no Brasil
O médico José Reis (1907-2002), cuja atuação na divulgação científica
foi proeminente no jornal Folha de S. Paulo até o fim da vida, tinha um olhar sensível para a
pesquisa científica. Ele via a ciência como algo bonito, “profundamente
estética”, e que, por essas e outras, deveria ser exibida à sociedade. Reis era
de uma geração de intelectuais da primeira metade do século 20 que ainda
cultivavam traços de uma polimatia, dando vazão a seus múltiplos interesses. É
daquelas pessoas difíceis de enquadrar numa só profissão. Ele conseguia aliar
ciência, literatura, arte, política e isso moldou uma carreira multifacetada,
permitindo a Reis atuar ativamente não só na divulgação da ciência, mas na
política científica. Saiba mais. Fonte: Jornal da USP - 27/06/22