Países cujos líderes adotarem discursos não-científicos, ou que não considerarem o método científico na sua plenitude, estarão fadados a ficarem às margens
Todas as grandes pandemias trouxeram impactos significativos para a ordem mundial, como bem registra a história acerca das mudanças causadas pela peste bubônica e pela gripe espanhola, além dos surtos de doenças como o sarampo, a cólera, o ebola, a febre amarela e a dengue — essas duas últimas, infelizmente, já bastante conhecidas da população brasileira.
Com a covid-19, nome da doença causada pelo novo coronavírus, não poderia ser diferente. A novidade é o fato de esta pandemia ocorrer justamente em um momento marcado por uma transição hegemônica no sistema internacional, que nas relações internacionais chamamos de novos polos de poder. Poder e saúde global são os dois pilares da diplomacia mundial da saúde, um dos temas mais caros desse campo do conhecimento científico ligado à ciência política.
Essa transição hegemônica, que se desenhava desde o final da última década, apontava para uma presença cada vez maior da China e de outras nações do leste asiático, como Japão e Coreia do Sul, em maior grau, e Singapura, Taiwan e Filipinas, em proporções menores e regionalizadas, nas decisões e rumos das relações internacionais — desde questões comerciais, como os conflitos com os Estados Unidos, até temas de meio ambiente, migrações e securitização, ou seja, o poder geopolítico de fato.
Se for possível relembrar o que aconteceu até março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde — que apesar de todos os cortes orçamentários sofridos está desempenhando um papel indispensável no combate aos impactos sanitários, demográficos e econômicos causados pelo coronavírus — reconheceu a pandemia atual, veremos fatos que hoje parecem muito distantes, como o assassinato, no Iraque, do general iraniano Qasem Soleimani por forças americanas, o Brexit, ocorrido em 31 de janeiro, as instabilidades políticas na América do Sul, sobretudo na Bolívia, no Chile e na Venezuela, as queimadas na Amazônia e na Austrália, e o início da corrida eleitoral nos Estados Unidos. Saiba mais. Fonte: Nexo - 19/05/20