Um banco de dados criado para mapear os pesquisadores mais influentes do mundo, aqueles cujos artigos são bastante mencionados em papers de seus colegas, acabou por revelar a prevalência de um tipo de má conduta praticado no topo da pirâmide da comunidade científica. Ao compilar uma lista de 100 mil cientistas com produtividade e impacto elevados, o médico John Ioannidis, professor de metodologia científica da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, observou que cerca de 250 abusaram do expediente da autocitação, que permite a um autor incluir em um artigo científico referências a trabalhos anteriores assinados por ele mesmo. Embora o contingente não seja grande, o levantamento sugere que um em cada 400 pesquisadores de alto desempenho pode ter usado artifícios para sobrevalorizar o impacto de sua contribuição.
Se um certo nível de autocitação pode ser necessário para contextualizar os achados anteriores de um autor em seu trabalho mais recente, o exagero dessas menções é um recurso surrado para manipular indicadores de produtividade acadêmica, tais como o fator de impacto de artigos ou o índice-h de pesquisadores, ambos calculados com base em citações. Entre os 250 nomes suspeitos de má conduta, mais de 50% das citações que receberam resultavam ou de autocitação ou então de citações feitas por coautores, o que pode configurar a chamada citação cruzada, uma espécie de ação entre amigos por meio da qual pesquisadores citam uns aos outros com grande frequência e sem justificativa razoável. A média de autocitação entre os 100 mil autores do banco de dados foi de 12,7%. Segundo Ioannidis, quando o nível de autocitação supera os 25% do total, é prudente fazer um exame minucioso do comportamento do autor para verificar a possibilidade de haver um desvio ético. Leia mais. Fonte: Pesquisa FAPESP - outubro 2019