22 outubro 2019

A sombra da autopromoção

Banco de dados mapeia 250 pesquisadores altamente produtivos suspeitos de abusarem de autocitações ou de praticarem citações cruzadas


Um banco de dados criado para mapear os pesquisadores mais influentes do mundo, aqueles cujos artigos são bastante mencionados em papers de seus colegas, acabou por revelar a prevalência de um tipo de má conduta praticado no topo da pirâmide da comunidade científica. Ao compilar uma lista de 100 mil cientistas com produtividade e impacto elevados, o médico John Ioannidis, professor de metodologia científica da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, observou que cerca de 250 abusaram do expediente da autocitação, que permite a um autor incluir em um artigo científico referências a trabalhos anteriores assinados por ele mesmo. Embora o contingente não seja grande, o levantamento sugere que um em cada 400 pesquisadores de alto desempenho pode ter usado artifícios para sobrevalorizar o impacto de sua contribuição.
Se um certo nível de autocitação pode ser necessário para contextualizar os achados anteriores de um autor em seu trabalho mais recente, o exagero dessas menções é um recurso surrado para manipular indicadores de produtividade acadêmica, tais como o fator de impacto de artigos ou o índice-h de pesquisadores, ambos calculados com base em citações. Entre os 250 nomes suspeitos de má conduta, mais de 50% das citações que receberam resultavam ou de autocitação ou então de citações feitas por coautores, o que pode configurar a chamada citação cruzada, uma espécie de ação entre amigos por meio da qual pesquisadores citam uns aos outros com grande frequência e sem justificativa razoável. A média de autocitação entre os 100 mil autores do banco de dados foi de 12,7%. Segundo Ioannidis, quando o nível de autocitação supera os 25% do total, é prudente fazer um exame minucioso do comportamento do autor para verificar a possibilidade de haver um desvio ético.  Leia maisFonte: Pesquisa FAPESP - outubro 2019