A resiliência das revistas predatórias, que divulgam artigos
científicos em troca de dinheiro e sem submetê-los a uma avaliação por pares
genuína, fez com que o combate a essas publicações ganhasse um novo front: na
impossibilidade de eliminá-las, tenta-se reduzir os danos que elas provocam na
credibilidade da comunicação científica e na reputação de autores. Um fórum
realizado em dezembro pelo Committee on Publication Ethics (Cope), entidade
internacional que mobiliza editores na discussão de temas de integridade
científica, evidenciou esse debate.
Um dos tópicos abordados foi a viabilidade de criar um mecanismo
capaz de garantir a pesquisadores a prerrogativa de exigir a retratação de um
artigo quando descobrissem que haviam publicado em um periódico fraudulento.
Ocorre que, na maioria dos casos, os editores dessas revistas simplesmente
ignoram os pedidos dos autores ou então aproveitam para exigir o pagamento de
uma “taxa de retratação”, de algumas centenas de dólares – já existe inclusive
a figura do “manuscrito refém”, à espera de um resgate para poder ser
cancelado. A conclusão do Cope foi de que seria impraticável criar uma
instância para decretar retratações à revlia, já que o periódico se torna
detentor dos direitos sobre o artigo.
Utilizar periódicos predatórios pode trazer vários prejuízos. Um
deles é o risco de o paper desaparecer. É comum que essas revistas
sejam descontinuadas sem deixar rastros na internet assim que suas práticas são
denunciadas. Mesmo que isso não aconteça, bases de dados como Web of Science e
Scopus têm por norma não indexar tais revistas, reduzindo a chance de que seus
artigos recebam citações. Mas o dano à reputação talvez seja o principal
problema. Ter um trabalho publicado em um título desses, no qual há dúvidas se
houve mesmo revisão por pares, pode prejudicar um pesquisador em um processo
rigoroso de avaliação. Saiba mais. Fonte: Pesquisa FAPESP - mar. 2021