05 março 2021

Como sobreviver ao veneno das revistas predatórias

A resiliência das revistas predatórias, que divulgam artigos científicos em troca de dinheiro e sem submetê-los a uma avaliação por pares genuína, fez com que o combate a essas publicações ganhasse um novo front: na impossibilidade de eliminá-las, tenta-se reduzir os danos que elas provocam na credibilidade da comunicação científica e na reputação de autores. Um fórum realizado em dezembro pelo Committee on Publication Ethics (Cope), entidade internacional que mobiliza editores na discussão de temas de integridade científica, evidenciou esse debate.
Um dos tópicos abordados foi a viabilidade de criar um mecanismo capaz de garantir a pesquisadores a prerrogativa de exigir a retratação de um artigo quando descobrissem que haviam publicado em um periódico fraudulento. Ocorre que, na maioria dos casos, os editores dessas revistas simplesmente ignoram os pedidos dos autores ou então aproveitam para exigir o pagamento de uma “taxa de retratação”, de algumas centenas de dólares – já existe inclusive a figura do “manuscrito refém”, à espera de um resgate para poder ser cancelado. A conclusão do Cope foi de que seria impraticável criar uma instância para decretar retratações à revlia, já que o periódico se torna detentor dos direitos sobre o artigo.
Utilizar periódicos predatórios pode trazer vários prejuízos. Um deles é o risco de o paper desaparecer. É comum que essas revistas sejam descontinuadas sem deixar rastros na internet assim que suas práticas são denunciadas. Mesmo que isso não aconteça, bases de dados como Web of Science e Scopus têm por norma não indexar tais revistas, reduzindo a chance de que seus artigos recebam citações. Mas o dano à reputação talvez seja o principal problema. Ter um trabalho publicado em um título desses, no qual há dúvidas se houve mesmo revisão por pares, pode prejudicar um pesquisador em um processo rigoroso de avaliação.  Saiba mais.    Fonte: Pesquisa FAPESP - mar. 2021