03 setembro 2021

Avaliação acadêmica - Novas réguas para medir a qualidade

Universidades e agências de fomento buscam e adotam métricas mais abrangentes para examinar o desempenho de pesquisadores

A comunidade científica dos Países Baixos trava uma disputa que promete reverberar na forma como são avaliados a qualidade do trabalho e o desempenho de pesquisadores em outras partes do mundo. A controvérsia teve início em junho, quando a Universidade de Utrecht, a mais antiga e bem ranqueada instituição de ensino superior holandesa, anunciou uma reforma em suas regras de contratação e promoção, abolindo o uso de indicadores bibliométricos como o fator de impacto (FI) para mensurar a relevância da produção de seus docentes. Calculado pelo número de citações que um artigo recebe nas referências bibliográficas de outros artigos, o FI é adotado, por exemplo, para examinar o prestígio de periódicos científicos – a empresa Clarivate Analytics atualiza anualmente o Journal Citation Reports, base de dados que estima o fator de impacto médio de mais de 10 mil revistas. O FI é considerado em diversas disciplinas como um bom sinalizador da repercussão que um artigo teve entre especialistas de sua área e se tornou matéria-prima para outros indicadores, como o índice h – que combina o número de artigos de um autor com a frequência de citações desses manuscritos.
No novo modelo proposto pela Universidade de Utrecht, os pesquisadores serão avaliados sem computar o número e a influência de seus papers, mas sim com base na qualidade do ensino, no compromisso de atuar em equipes e na disposição de compartilhar dados de pesquisa. Cada departamento deverá elaborar estratégias próprias para apreciar o desempenho de seus docentes, levando em conta o efeito na economia e na sociedade e os princípios de “ciência aberta”, conjunto de práticas que promove a transparência e o trabalho em colaboração. “Temos uma forte convicção de que algo precisa mudar. E abandonar o fator de impacto é uma mudança necessária”, disse à revista Nature Paul Boselie, professor da Escola de Governança da universidade, responsável pela construção do novo sistema. Segundo ele, o uso indiscriminado do FI produziu consequências indesejadas, como a preocupação excessiva em publicar artigos e a busca de artifícios para anabolizar sua ressonância, deixando em segundo plano outros objetivos importantes da atividade científica.  Saiba mais.   Fonte: Pesquisa FAPESP - set. 2021