Universidades e agências de fomento buscam e
adotam métricas mais abrangentes para examinar o desempenho de pesquisadores
A comunidade científica dos Países Baixos trava uma disputa que
promete reverberar na forma como são avaliados a qualidade do trabalho e o
desempenho de pesquisadores em outras partes do mundo. A controvérsia teve
início em junho, quando a Universidade de Utrecht, a mais antiga e bem
ranqueada instituição de ensino superior holandesa, anunciou uma reforma em
suas regras de contratação e promoção, abolindo o uso de indicadores
bibliométricos como o fator de impacto (FI) para mensurar a relevância da produção
de seus docentes. Calculado pelo número de citações que um artigo recebe nas
referências bibliográficas de outros artigos, o FI é adotado, por exemplo, para
examinar o prestígio de periódicos científicos – a empresa Clarivate Analytics
atualiza anualmente o Journal Citation Reports, base de
dados que estima o fator de impacto médio de mais de 10 mil revistas. O FI é
considerado em diversas disciplinas como um bom sinalizador da repercussão que
um artigo teve entre especialistas de sua área e se tornou matéria-prima para
outros indicadores, como o índice h – que combina o número de artigos de um
autor com a frequência de citações desses manuscritos.
No novo modelo proposto pela Universidade de Utrecht, os
pesquisadores serão avaliados sem computar o número e a influência de seus papers,
mas sim com base na qualidade do ensino, no compromisso de atuar em equipes e
na disposição de compartilhar dados de pesquisa. Cada departamento deverá
elaborar estratégias próprias para apreciar o desempenho de seus docentes,
levando em conta o efeito na economia e na sociedade e os princípios de
“ciência aberta”, conjunto de práticas que promove a transparência e o trabalho
em colaboração. “Temos uma forte convicção de que algo precisa mudar. E
abandonar o fator de impacto é uma mudança necessária”, disse à revista Nature Paul
Boselie, professor da Escola de Governança da universidade, responsável pela
construção do novo sistema. Segundo ele, o uso indiscriminado do FI produziu
consequências indesejadas, como a preocupação excessiva em publicar artigos e a
busca de artifícios para anabolizar sua ressonância, deixando em segundo plano
outros objetivos importantes da atividade científica. Saiba mais. Fonte: Pesquisa FAPESP - set. 2021