Quem gastaria muito mais para ter seu
artigo na Nature? Quase todo mundo. Uma das situações mais
desafiadoras na carreira de um cientista é tentar explicar o sistema de
publicação científica para as pessoas em geral. Como justificar que
pesquisadores entreguem seu trabalho de graça a editoras estrangeiras, que
lucram cobrando pelo acesso a ele? Ou que, além de não cobrar, eles às vezes
paguem por isso?
Antes da internet, editoras comerciais eram necessárias para a
divulgação de um trabalho científico: financiados por universidades ou
governos, cientistas faziam pesquisa e atuavam como revisores de seus pares,
delegando a tarefa de imprimir e distribuir artigos em papel a uma empresa que
cobrava pelo produto de forma a manter o negócio viável.
A rápida migração online das revistas científicas na virada do século parecia
anunciar mudanças: em 1995, a Forbes previu que a Elsevier, maior editora
científica do mundo, seria a “primeira vítima da internet”.
Passados 25 anos, o braço técnico-científico do grupo RELX, conglomerado
multinacional no qual a editora se transformou, registra um faturamento anual
de mais de 2,6 bilhões de libras,
com margens de lucro entre 30 e 40%.
Tais custos são mantidos por bibliotecas universitárias e agências públicas ao
redor do mundo, que pagam somas cada vez mais vultosas por artigos
que suas próprias instituições produzem. No caso do Brasil, isso equivale a
mais de 480 milhões de reais desembolsados
pela CAPES nas assinaturas do Portal Periódicos em 2020. Saiba mais.
Fonte: Ciência Fundamental - 24/02/22