A Covid-19 alterou profundamente o mercado de trabalho no mundo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), historicamente, o teletrabalho sempre esteve associado à informalidade, ausência de direitos, salários mais baixos, era predominantemente feminino e mais frequente em países pobres. Após a pandemia provocada pelo novo coronavírus, o perfil de quem trabalha no domicílio mudou: até 2019, era composto quase que exclusivamente por autônomos e, em 2020, passou a ser realizado por profissionais de nível superior: professores, gerentes, administradores e funcionários de escritórios. O boletim número 16 da Rede de Pesquisa Solidária apresenta as principais transformações do trabalho de casa, realça suas características antes e durante a pandemia e discute as desigualdades digitais que impactam essa molalidade de trabalho. Tendências do teletrabalho
Em 2019, o percentual de pessoas que trabalhavam em casa era de apenas 5,4% nos países da União Europeia (Centro de Estatística da União Europeia (Eurostat), e de 4,9% no Brasil (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD).
O trabalho de casa sempre foi, na maior parte das vezes, uma prerrogativa típica de trabalhadores autônomos. Na Europa, em média, 19,0% dos autônomos trabalhavam em seus domicílios. No Brasil, esse valor era de 16,6%.
Teletrabalho: antes e depois da pandemia
Segundo dados da PNAD-Covid, pesquisa emergencial feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em maio de 2020, o percentual de pessoas ocupadas que trabalharam a partir de suas residências era de 10,3%. Esse número se refere à quantidade de pessoas que usualmente trabalhavam fora de casa, mas que, em função da pandemia, tiveram que mover suas atividades para suas residências. A PNAD-Covid, contudo, não perguntou sobre o lugar “usual” ou “habitual” de trabalho – assim, deixa de observar o trabalho em casa tradicional. Contudo, há fortes razões para acreditar que aqueles 4,9% de trabalhadores que tradicionalmente trabalhavam em seus próprios domicílios (e que majoritariamente eram informais) tenham se reduzido. Assim, a nova composição do trabalho em casa, durante a pandemia, é majoritariamente composta por um setor “moderno”, diferente do anterior.
Em 2019, os autônomos eram 88,3% do total das pessoas que trabalhavam em casa. Hoje, no novo segmento, representam menos que 15% do total. O perfil ocupacional se alterou também de forma significativa: agora são principalmente profissionais com ensino superior, professores, gerentes e administradores, trabalhadores de escritório. Saiba mais. Fonte: Jornal da USP - 21/07/20