16 outubro 2017

O que está acontecendo com a ciência?

O jornal El País publicou um artigo que mostra uma situação muito perigosa para a ciência: a perda de sua credibilidade. O título do artigo é bem sugestivo e claro: Ciência vive uma epidemia de estudos inúteis. Tudo isso é reiterado por um manifesto publicado na Nature Human Behaviour, que, em tradução livre, chama-se Manifesto por uma ciência reproduzível.
Qual é o motivo de todo esse alarde, afinal de contas?
Em suma os dois veículos de informação mostram que muitos — senão a maioria — dos artigos científicos produzidos hoje apresentam as seguintes características:
  • são dificilmente repetíveis;
  • baseiam-se em metodologias estatísticas convenientes para suportarem as teorias que defendem;
  • são publicados devido ao apelo comercial que suas ideias ou técnicas inovadoras representam, sem que necessariamente estejam 100% testadas.
Tudo isso seria reforçado pelas poderosas revistas científicas que têm preferências por publicações com esse apelo inovador, chamativo e que faça muito “barulho”, ou seja, que atinja um grande número de leitores.
Para realizarmos estudos sobre o Universo, usamos a ciência. Para usar a ciência, é necessário dominarmos a técnica da metodologia científica, que é muito simples. Você tem uma pergunta ou uma hipótese. Você monta um experimento para testar suas perguntas e hipóteses. Esses experimentos devem ser possíveis de serem repetidos em todo o mundo. Você registra os resultados e faz uma conclusão que pode ou não corroborar com suas ideias iniciais.
O problema é que muitas pesquisas científicas atuais usam técnicas, como a ressonância em estudos neurológicos, que são muito específicas e difíceis de serem dominadas por outros cientistas. Logo, são dificilmente re-testadas por outros grupos. Somado ao problema do status que certos grupos de pesquisadores têm mediante outros, torna-se desleal a quantidade de publicações de estudos em grandes veículos de informação.
Um dos últimos problemas que os artigos do El País e Nature citam é que as universidades são cúmplices da atual situação científica do mundo. Isso porque elas valorizam os pesquisadores que publicam mais em vez daqueles que fazem de fato uma pesquisa científica original.
A ciência não pode se tornar pseudociência. Grande divulgador científico, o já falecido Carl Sagan era um ativista contra a pseudociência. Como diz Marcelo Knobel, atual reitor da Universidade Estadual de Campinas, em seu artigo Ciência e pseudociência:
A pseudociência tem esse nome porque tenta mimetizar uma aparência de ciência, incluindo uma linguagem mais complexa, com afirmações veementes de que os resultados são “cientificamente comprovados” ou abalizados por “estudos aprofundados”.
A solução? A ciência já a tem e a usa há séculos. Voltar a usar a metodologia científica, dar aberturas a discussões e debates sobre todos os pontos de vista e usar as teorias que têm menores chances de serem refutadas.
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