22 maio 2018

A leitura da geração dos 2000

Neste ano de 2018, a geração que entra na Universidade de São Paulo é a geração que nasceu nos anos 2000 e isso exige alguma reflexão. Quem são esses nossos alunos que vivem em uma realidade tão diferente daquela que formou seus pais? As circunstâncias políticas são outras, a vida social foi modificada, as tendências culturais, estéticas e até afetivas mudaram, mas houve, sobretudo, uma revolução no campo das tecnologias. Isso produziu o advento de uma sociedade digital, o que traz efetivamente enormes implicações educacionais. Essa sociedade digital impactou as formas de ler e de conviver.
Presenciamos hoje uma geração de ‘leitores de celulares’. Uma geração profundamente familiarizada com os recursos da internet, mas com alguma dificuldade de discernimento sobre o que ‘merece’ ser lido…
Por sua vez, na contramão da tendência de seu tempo, de alguma maneira, a universidade solicita dessa juventude que lê pelo computador a leitura no livro impresso ou mesmo no xerox, a leitura – digamos – mais tradicional. E tem mesmo de fazer isso. Cada vez mais, entretanto, as sessões de fotocópias das faculdades  têm menos trabalho – por assim dizer. Muitos professores já disponibilizam textos digitalizados. Será que esses textos são mais acessados do que aqueles que vêm por outros suportes? E o que dizer do conteúdo desses textos? Será que lemos o mesmo texto quando o acessamos pelo computador e quando o lemos a partir de um livro? Seria o mesmo texto que é lido? De todo modo, essa forma de leitura – que cada vez mais invade a universidade – leva a que repensemos obrigatoriamente nossas práticas em sala de aula. Fazemos ainda com que os alunos imprimam o que leram? Como trabalhar o conteúdo do que é lido sem que ele possa ser objeto de um registro que acompanhe essa leitura? Para levar o texto para classe, se não o imprimirem, em tese, todos precisariam ter em sala de aula um computador. Essa ainda não é a realidade de muitos dos cursos da universidade. Nesse sentido, a leitura acaba sendo prejudicada. Os alunos parecem ler menos porque leem de outra maneira.
Acresce-se a isso a questão da internet. O contato com uma biblioteca sem fronteiras parece absolutamente sedutor. Aparentemente constam dali todos os conteúdos culturais que podem interessar à juventude. A internet altera os padrões de apropriação do texto. É claro que todos nós também lemos na tela. Acontece que há uma geração nova que está desaprendendo como se lê fora da tela. O uso que a juventude faz da leitura parece ser alguma coisa ainda desconhecida das gerações mais velhas. Será que nós sabemos fazer a leitura de como essa juventude lê? Eis a questão.   Leia mais