13 maio 2020

O impacto da pandemia no ensino superior


O fechamento das faculdades pôs o ensino superior, em todo o mundo, num dilema: fechar as portas ou tentar manter as atividades em modo virtual? A principal dificuldade de fechar é que não sabemos até quando nem como será a volta. O primeiro semestre já está perdido e provavelmente o segundo também. Dá para, de um dia para outro, passar tudo para o modo virtual? Quais serão as consequências? E o que isso pode significar, em médio e longo prazos?
Não dá para, simplesmente, colocar as aulas tradicionais na internet e achar que tudo vai continuar como antes. O ensino à distância de qualidade requer aulas bem preparadas, alunos que possam participar e sistemas de acompanhamento e avaliação de resultados diferentes dos tradicionais. Tecnologias para isso existem, mas poucas instituições brasileiras estão preparadas para usá-las. A grande maioria dos professores, sobretudo das instituições públicas, nunca aprendeu a fazer isso. O ensino privado, nos últimos anos, ampliou muito a educação à distância, num esforço de redução de custos, depois que o crédito educativo ficou mais difícil, e hoje cerca de metade de seus alunos está nesse regime.
Para as instituições que estão buscando se adaptar à educação remota, o que se ouve é que tem sido um aprendizado precioso, que poderá ter utilizado com muitas vantagens quando a situação se normalizar. Os professores estão descobrindo que podem usar recursos pedagógicos que tornam suas aulas mais interessantes e a interação com os estudantes pode ser mais facilitada. Os estudantes têm mais flexibilidade para organizar seu tempo e não precisam se deslocar para as universidades simplesmente para assistir às aulas. E os currículos tradicionais, organizados como linhas de montagem, podem ser substituídos por sequências flexíveis de estudo adaptadas a cada estudante.
A educação presencial, olho no olho, é insubstituível quando o professor pode trabalhar com um número pequeno de alunos, mas na educação superior de massas, com grandes turmas, a educação mediada por tecnologia pode ser superior à tradicional. O problema da desigualdade no ensino superior já existia, mas os custos de dar um computador, tablet e acesso à internet para quem precisa são pequenos, e a flexibilidade e o acesso a recursos pedagógicos de qualidade podem contribuir para reduzir as desvantagens de quem mora longe, precisa trabalhar e não conseguiu entrar numa universidade de prestígio. As tecnologias permitem também que universidades colaborem compartilhando cursos, professores e materiais pedagógicos, reduzindo custos e melhorando a qualidade.   Leia mais.    Fonte: O Estado de S. Paulo - 08/05/20