Está cada vez mais penoso ler e compreender os artigos científicos, instrumento por excelência de compartilhamento de ideias e resultados entre pesquisadores. E o aumento da dificuldade não se deve apenas à maior produção e especialização das áreas da ciência. Os textos estão mais herméticos por causa do uso excessivo de siglas e jargão acadêmico, segundo estudos recentes. A ecóloga Zoe Doubleday, da Universidade do Sul da Austrália, e o estatístico Adrian Barnett, da Universidade de Tecnologia de Queensland, ambas na Austrália, analisaram 24 milhões de títulos e 18 milhões de resumos de artigos publicados entre 1950 e 2019. No período, o uso de acrônimos cresceu 10 vezes nos abstracts (de 0,4 a cada 100 palavras para 4 a cada 100) e 3,4 vezes nos títulos. Foram identificados 1.112.345 acrônimos diferentes no material analisado, mas apenas 2 mil (0,2% do total) eram usados regularmente. A maioria (79%) apareceu menos de 10 vezes em sete décadas (eLife, 23 de julho). Em um estudo anterior, o grupo de William Thompson, do Instituto Karolinska, na Suécia, avaliou 709 mil resumos de trabalhos publicados entre 1881 e 2015 e identificou um aumento no uso desnecessário de jargão científico. Uma análise recente de 21 mil artigos de espeleologia publicados nos últimos 30 anos indica que usar mais jargão reduz o número de vezes que o trabalho é mencionado por outros artigos (biorXiv, 21 de agosto). Fonte: Pesquisa FAPESP - out. 2020