Em carta na Science, pesquisadores brasileiros alertam que Plano S não tem diretrizes realistas para controlar taxas cobradas por periódicos.
Publicar em revistas de acesso aberto de alta visibilidade pode se tornar inviável para a maioria dos cientistas caso o Plano S – uma iniciativa internacional concebida para acabar como o “paywall” das revistas científicas – seja implementado sem uma estratégia mais realista para limitar os preços das taxas de publicação.
O alerta foi feito no início do mês na seção de cartas da revista Science pelos pesquisadores brasileiros Alicia Kowaltowski, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), e Marcus Oliveira, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (“Plan S: Unrealistic capped fee structure”).
Lançado em setembro de 2018 por agências de financiamento de pesquisa de 11 países da Europa, o Plano S (ou Coalizão S) determina que, a partir do início de 2020, só terão recursos públicos os cientistas que publicarem seus trabalhos exclusivamente em revistas de acesso aberto, que não cobram pelo acesso dos leitores. Nessas revistas, porém, os pesquisadores devem pagar uma taxa às editoras.
Taxas muito altas
Em sua carta na Science, os cientistas brasileiros dizem não ser realista a estratégia do Plano S para controlar as taxas de publicação em periódicos de acesso aberto. Segundo eles, se essa discussão não for feita antes da implementação do plano, a publicação em revistas de acesso aberto de grande visibilidade – que têm taxas mais altas – acabará se tornando inviável para a maioria dos pesquisadores.
“Embora nós apoiemos o modelo de acesso aberto, preocupa-nos que a estrutura de taxas do Plano S não seja realista”, escreveram os cientistas brasileiros.
Segundo eles, no Brasil, embora as agências de financiamento paguem taxas de publicação, não há recursos suplementares para os custos de publicação em acesso aberto, que pode passar dos US$ 5 mil por um só artigo. “Em vez disso, esses custos são subtraídos do valor total das bolsas, o que significa que os autores precisam escolher entre o acesso aberto e os materiais de laboratório”, diz a carta.
“Somos totalmente favoráveis ao acesso aberto, mas é preciso garantir que essa transição seja feita de uma maneira que os interesses comerciais não prevaleçam. Nossa principal preocupação é que o Plano S entrará em vigor em menos de um ano e ainda não sabemos o que será feito para limitar as taxas”, disse Alicia a Direto da Ciência.
Sociedades científicas
Para amenizar o problema, Alicia e Oliveira propõem em sua carta à Science que os cientistas sejam estimulados a publicar em plataformas e revistas que são mantidas por sociedades científicas e editadas por cientistas ativos, em vez de editores profissionais.
“A saída que propomos envolve pensar com mais cuidado para quem nós cientistas estamos entregando nossas publicações. Gostaria de entregá-las para cientistas e que o pagamento pela publicação gerasse retorno para a sociedade”, disse a pesquisadora.
Alicia menciona como exemplo a revista de acesso aberto Redox Biology, da qual é editora associada. O periódico, que cobra de US$ 1,9 mil a US$ 2,4 mil por publicação, é publicado pela gigante Elsevier, mas é o veículo oficial da Sociedade de Biologia e Medicina Redox e da Sociedade de Pesquisa sobre Radicais Livres da Europa. Fonte: Direto da Ciência